In[ter]venções Gráficas

Algumas imagens retiradas do livro-objeto homônimo.

Invenção e Intervenção.

De invenção, existe a referência ao momento criativo, idear, criar no pensamento: criar os desenhos, inventar formas de ler o espaço cidade a cada vez que ando por ele, colocar para fora as experiências de mundo que obtenho.
De intervenção, meter-se de permeio, interferir: as fotografias são uma forma de interferir na realidade, já que que, através destas representações, se estabelece uma leitura nova àquilo que foi fotografado (recorte espacial e interrupção temporal – Boris Kossoy). Alia-se a isto o fato de manipular digitalmente as fotos para acentuar a sensação de uma realidade alternativa.
Neste ponto, a fotografia e a linha se unem através de um elemento: o tempo. Ambas são fruto de um tempo, cuja duração, originalmente desconhecida, pode ser infinitamente reinterpretada, fragmentada, lida.


As linhas se formam, uma a uma, a partir das vivências de experiências de cada pessoa, deixando, a cada caminhada, um rastro desenhado no cenário urbano.
Tal elemento gráfico existe apenas na realidade construída através da fotografia. Preto-e-branco, para que não se misture com a nossa realidade.
Essas interferências criadas no espaço da cidade foram chamadas de In[ter]venções gráficas e constituem um agrupado de várias etapas de um processo de estudo.
A obra tomou forma de um livro. Porém a palavra só aparece nos extremos – primeira e última páginas – perdendo sua força como elemento narrativo principal.
“Por mais que se diga o que se vê, o que se vê jamais se aloja no que se diz, e por mais que se faça ver o que se está dizendo por imagens, metáforas, comparações, o lugar onde estas resplandecem não é aquele que as sucessões da sintaxe definem.”
(Foucault, “As Palavras e as Coisas”)
É por este motivo que deixo indefinidas as noções de capa e contracapa. Para que estas experiências se recriem no interior de cada leitor – e por isso o objeto é um livro, muito mais íntimo que uma obra tridimensional, por exemplo – e se agrupem às experiências de cada um, para que possam recriar novas relações e desenhos de linhas, na trama de suas experiências humanas.
A filosofia budista tibetana tem exercido muita influência em meu pensamento. Logo, organizo-o de acordo com minhas crenças sobre espiritualidade, cosmo, coletividade e individualidade.
Como uma reverência de compaixão à singularidade de cada um, cada ser humano, presente ou não na terra neste momento. A idéia do tempo e da memória que tanto permeiam a fotografia encontram-se presentes também neste trabalho.
Uma obra que se desdobra em múltiplos: desenho, tridimensional, performance, texto, fotografia e (futuramente) vídeo.
Cada técnica corresponde a uma etapa de criação e cada qual transforma, de maneira única as relações e memórias em um elemento plástico.
Cada suporte e cada material oferecem um tipo de linguagem e, no fim, todas elas se encontram em um só trabalho, uma rede de expressões em interação.





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