"Por esta janela é que me dou conta da paisagem. Ela está enquadrada pelos montantes de madeira que recortam dois lados paralelos no tecido contínuo do exterior. Aposto que ele é contínuo, mas não o vejo assim. Os postigos riscam a luz com faixas negras, ou, ao contrário, riscam de luz a obscuridade do quarto, recorte falhas de sombra, cintilando no pálido vento de outono.
[...]
Nuvens. Passam, desfiam-se. Arquitetura cambiante, de acordo com a estação, o dia. Portadoras ou não de tempestades.
Janelas. Como evitar ver nelas a metáfora do olho? Fiando-a, ela produz suas próprias submetáforas: tela do véu, ponto cego, estriamentos do bater de pálpebras, humores do corpo, esta lágrima, este sorriso, as nuvens dos pensamentos da tarde ou da manhã, e também a alma, cuja janela é o olho, que governa a visão."
(Anne Cauquelin, A Invenção da Paisagem)
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